A Certificação de Entidade Formadora da FP Andebol (FAP) tem como principal objetivo ajudar os clubes a melhorarem o seu processo de formação de atletas.
Ser certificado como Entidade Formadora, deve significar para o clube muito mais do que obter um número de estrelas. A Certificação deve ser vista como uma forma de credibilização da instituição e como um meio que contribui positivamente para a melhoria de todos os processos internos, especialmente do processo formativo.
Ao longo deste artigo vai perceber quais são os requisitos e critérios para um clube de Andebol candidatar-se à Certificação e por que é a mesma é tão importante para os clubes.
Processo de Certificação de Entidade Formadora da FP Andebol
A Federação de Andebol de Portugal anunciou que a Certificação da Entidade Formadora será feita em 4 fases, divididas em 4 épocas, conforme descrito no Regulamento:
- 2021/2022 foi o ano 0 de implementação do processo;
- 2022/2023 é o ano de consolidação;
- Em 2024/2025 será obrigatório 1 estrela para todos os clubes que queiram participar em Programas Nacionais dos Escalões de Formação;
- A partir de 2025/2026 a certificação será obrigatória para todos os clubes que pretendam celebrar contratos de formação desportiva.
“O processo de implementação da Certificação de Entidades Formadoras no Andebol é um dos projetos estruturantes que a Federação inicia com o objetivo de conseguir ajudar os clubes a estarem organizados para enfrentarem os diversos desafios desportivos e sociais nos próximos anos.”
Pedro Sequeira, vice-presidente FAP
Requisitos para candidatura a Entidade Formadora da FP Andebol
A FAP anunciou a certificação de Andebol com a possibilidade das entidades formadoras poderem ser certificadas com 1, 2 ou 3 estrelas.
Para se candidatarem a cada uma das estrelas que atualmente existem, existem requisitos mínimos que os clubes têm de cumprir:
1 estrela
- 3 equipas de escalões de formação consecutivos inscritos;
- 14 jogadores por equipa e por escalão.
2 estrelas
- 1 equipa sénior inscrita;
- 3 equipas de escalões de formação consecutivos inscritos;
- 16 jogadores inscritos nos Seniores e 14 jogadores em cada uma das equipas dos escalões de formação.
3 estrelas
- 1 equipa sénior inscrita;
- 16 jogadores inscritos nos seniores;
- Todas as equipas de escalões de formação inscritas (de Manitas a Sub-18 Masculinos / Sub-17 Femininos);
- Mínimo de 14 jogadores por equipa e por escalão (com exceção dos seniores).
Critérios do Processo de Certificação de Entidade Formadora da FAP
O processo de avaliação para obtenção da Certificação de Entidade Formadora da FAP é composto por 9 critérios, sendo que cada um deles está dividido em vários subcritérios, que estão disponíveis para consulta no Regulamento de Certificação da FAP.
A cada um dos critérios é conferida uma pontuação máxima e a soma das pontuações dita o número de estrelas que pode ser concedido ao clube, conforme a tabela abaixo.
A certificação de entidade formadora da FP Andebol está então dependente da avaliação de 9 critérios:
Critério 1: Planeamento Estratégico e Orçamento (8 pontos)
Um dos objetivos da FAP ao implementar a Certificação de Entidade Formadora é ajudar os clubes a melhorarem o trabalho desenvolvido.
Assim, torna-se indispensável que cada organização desportiva defina a sua missão, a sua visão e o seu plano estratégico. Neste último ponto deve ser explícito quais são os objetivos do clube a curto, médio e longo prazo, bem como os valores da ética e integridade no desporto.
Este planeamento é indispensável para que toda a estrutura do clube esteja alinhada e todas as equipas trabalhem para a concretização dos mesmos objetivos.
Ter um orçamento definido para cada época ajudará a garantir que o planeamento estratégico é cumprido. Para tal, o clube deve ter bem definidos quais são os apoios e as parcerias com que vai poder contar durante a época desportiva.
Leia também: Missão, Visão e Valores de um Clube Desportivo: afinal o que é isso?
Critério 2: Estrutura Organizacional e Manual de Acolhimento e Boas Práticas (8 pontos)
Para responder a este critério é necessário demonstrar qual é o posicionamento da entidade formadora. Para isso, é necessário que exista um Organograma no clube e um Manual de Acolhimento e Boas Práticas.
Estes dois itens são fundamentais para que toda a comunidade desportiva saiba quem são as pessoas responsáveis por cada área, bem como quais são as normas e regras a seguir dentro do clube desportivo.
Na construção do manual de acolhimento e boas práticas, é importante incluir:
- Missão, visão e plano estratégico do clube;
- Normas de conduta;
- Normas sobre o acompanhamento de jogadores;
- Infrações e Quadro Disciplinar.
Critério 3: Recrutamento / Angariação / Sensibilização (12 pontos)
A formação de jovens atletas contempla duas etapas fundamentais: o seu recrutamento e/ou angariação e a sua formação desportiva.
Estando os clubes a lidar com crianças e jovens, na sua grande maioria menores de idade, é crucial que estejam preparados com recursos e ferramentas para prestar apoio a todos os atletas, inclusive atletas deslocados da sua área de residência.
Assim, no plano de recrutamento da entidade formadora, deve estar bem definido:
- Quem são os recursos humanos com a função de recrutamento;
- Quais são as políticas e os procedimentos do recrutamento/angariação de atletas;
- Quais as ações de recrutamento de jogadores não nacionais para os escalões de formação;
- Quem é o responsável por alertar a proteção de menores em caso de suspeita de práticas abusivas no ambiente familiar dos jovens;
- Qual é a estrutura piramidal do clube.
Critério 4: Formação Desportiva (18 pontos)
Visto que o principal objetivo do clube é formar jovens atletas, é fundamental que existam linhas orientadoras bem definidas que demonstrem o rigor desta formação.
Atletas em diferentes escalões, exigem formações diferentes, e é necessário que a entidade formadora tenha definido metas e objetivos para os diferentes escalões, bem como orientações para a formação dos atletas.
É igualmente importante que existam formas de avaliar a evolução dos atletas, para comprovar a eficácia da formação desportiva e encontrar possíveis pontos a melhorar.
Assim, o critério de formação desportiva, exige que as equipas de Andebol apresentem:
- As finalidades, metas e objetivos dos diferentes escalões de formação;
- O dossier de treino;
- A articulação entre os escalões de formação e destes com o Andebol Sénior do clube, incluindo como a transição é feita entre atletas da formação para as equipas seniores;
- Documentos estruturados, explícitos e articulados.
Critério 5: Acompanhamento Médico-Desportivo (8 pontos)
O acompanhamento médico é importante para qualquer atleta, mas torna-se ainda mais indispensável quando falamos de crianças e jovens que se encontram numa fase de desenvolvimento, precisando de um acompanhamento contínuo que previna e trate lesões.
Como tal, a Entidade Formadora deve descrever qual é o tipo de acompanhamento médico-desportivo que existe no clube, bem como garantir que todos os exames obrigatórios são realizados.
Sempre que necessário devem ser incluídos exames adicionais aos pedidos pela FAP, garantindo um correto acompanhamento médico de todos os atletas.
Critério 6: Acompanhamento Escolar, Pessoal e Social (12 pontos)
Formar jovens atletas é bem mais do que só formá-los de um ponto de vista desportivo. É preciso que os clubes estejam preparados para acompanhar os atletas, também a nível escolar, pessoal e social.
Desta forma, torna-se indispensável que cada entidade formadora disponha de um tutor responsável pelo acompanhamento escolar dos jovens e pela criação de um calendário de formações dirigidas tanto a atletas como a pais e treinadores.
É também necessário assegurar que todos os atletas têm apoio psicológico à disposição e que existe um responsável pelos menores de idade deslocados da sua família.
Leia também: A escola e o desporto na formação de um atleta
Critério 7: Recursos Humanos (18 pontos)
Este critério, a par com a formação desportiva, é o mais valorizado pela Federação Portuguesa de Andebol. São os recursos humanos do clube que vão garantir o cumprimento do plano estratégico e assegurar o futuro desportivo dos atletas.
Os recursos humanos são um dos fatores mais diferenciadores da entidade formadora. Os adversários podem replicar estratégias de jogo, mas nunca poderão replicar as pessoas que fazem parte do seu clube. Assim, é importante garantir que seleciona pessoas qualificadas para a função e alinhadas com a missão, visão e os valores do clube.
Critério 8: Instalações e Equipamentos (10 pontos)
Na candidatura à Certificação de Entidade Formadora, o clube de Andebol, deve provar que as suas instalações e os seus equipamentos são adequados para a formação desportiva.
Neste critério são incluídos os diferentes espaços e equipamentos referentes à formação desportiva, tais como: pavilhão para treinos/jogos; balneários; gabinetes médicos; salas para formações/reuniões; acesso ao ginásio do clube ou parceria; transporte e alojamento dos jogadores deslocados.
Critério 9: Produtividade (8 pontos)
Se o objetivo do clube é formar jovens atletas, então tem de ser provado que no final do processo formativo esses jovens integram, por exemplo, a equipa sénior do clube, a seleção nacional ou regional ou participam em competições nacionais ou estrangeiras.
É de igual modo importante que o clube apresente provas da retenção de atletas após o seu processo formativo.
O clube tem de entregar provas de que a sua missão está a ser cumprida, ou seja, é necessário comprovar que existe progressão dos atletas e que dispõe de mecanismos para avaliar esta progressão.
Importância da Certificação da Entidade Formadora da FP Andebol para os clubes
Independentemente do número de estrelas que o clube consiga atingir, a certificação é um passo muito importante e trará diversos benefícios para a entidade formadora:
- Melhoria da organização interna;
- Desenvolvimento de processos mais eficientes;
- Aperfeiçoamento da formação dos jovens atletas;
- Reforço do posicionamento e da notoriedade do clube junto da comunidade desportiva;
- Crescimento sustentável.
A todos estes benefícios acrescenta a obrigatoriedade do clube de Andebol, a partir da época de 2025/2026, ser certificado para poder celebrar contratos de formação desportiva.
A Certificação de Entidade Formadora da FP Andebol pode ser vista como um “carimbo de qualidade” do trabalho realizado pelo clube desportivo. E, apesar de muitos dos critérios já serem uma realidade nos clubes desportivos, existe ainda um trabalho de análise, preparação, definição e implementação de novos processos para cumprir com todos os requisitos, nos próximos 2 anos.
Desta forma se o seu clube começar já a trabalhar no processo de Certificação, daqui a 2 anos, conseguirá obter os níveis mais altos da Certificação de Entidade Formadora da FAP. O futuro começa hoje!